Maria Antonieta é uma das organizadoras do Acorda Povo e Bandeira de São João da Várzea. Sua história e relação com o bairro está presente nas diversas atividades religiosas e culturais do qual participou e ainda participa. Professora no bairro da Várzea a mais de 25 anos participou do processo educacional e da formação de diversos moradores. Além de professora, Maria Antonieta também foi catequista na comunidade religiosa católica local; participa da organização do Pastoril Lúdico no bairro e do Bloco Lírico Flores do Capibaribe.
quarta-feira, 6 de julho de 2016
terça-feira, 28 de junho de 2016
Irmã Helena
A irmã Helena é uma freira integrante da irmandade das "Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo" (entidade que, junto à Santa Casa de Misericórdia do Recife, faz a gestão da instituição), atuando desde 2003 como gestora do Educandário Magalhães Bastos. Atualmente, aos 80 anos, está em seu quinto triênio (2015-2017) nessa função. Antes mesmo de atuar como gestora, já trabalhava na administração desde o começo da década de 1990. Mostrou-se bastante solícita na entrevista que concedeu, na exposição do prédio, na disponibilidade de documentos, na explicação do histórico do prédio e sua importância na comunidade em que está inserida.
Acorda Povo e Bandeira de São João da Várzea
As
celebrações religiosas podem exprimir diversos sentimentos que uma comunidade
pode guardar sobre o seu passado e sua cultura. Valores, crenças, identidade,
fé, axé, reforçam o sentimento de preservação, de tornar aquela expressão
cultural próxima, viva e sempre vivida. A Procissão da Bandeira de São João e Acorda Povo da Várzea dão aos seus
participantes e membros da comunidade os sentimentos de pertencimento e de
identidade que são expressas de diversas maneiras através de expressões orais,
corporais, objetos e ritos.
A Bandeira de São
João é uma das procissões mais antigas do Brasil. Saindo no dia 23 de Junho, a
procissão percorre as ruas do Bairro levando consigo um andor com a imagem de
“São João do Carneirinho” e um estandarte com a imagem do santo na frente do
cortejo junto às pessoas da comunidade e visitantes acompanhados por músicos. A
procissão, junto à bandeira e o andor, saem da casa-capela (casa onde ficaram
guardados durante o ano) onde foram guardados pelo “padrinho” ou “madrinha” da
procissão, passa pelos principais pontos do bairro, pela igreja Católica e a Praça
do Rosário, onde acontece uma confraternização com comidas e bebidas típicas da
festa e também é onde será escolhido o próximo “padrinho” ou “madrinha”. A
bandeira, junto ao andor deverá seguir para próxima casa-capela. Também é notória a presença das cores vermelha
e branca na festa, que faz parte da homenagem a Xangô segundo seus
organizadores, Orixá do Candomblé cujo culto também está presente nas raízes do
evento.
Onde é
A procissão sempre acontece no bairro da Várzea, no Recife. Os pontos de
partida e de chegada mudam todo ano conforme aparecem novos padrinhos e novas
casas-capela, contudo, alguns pontos específicos sempre são mantidos no percurso.
Um desses pontos é a Praça da Várzea (Praça Pinto Dâmasso), também conhecida
pelos moradores do bairro como o “marco zero da Várzea”, a procissão sempre faz
uma parada na Praça Pinto Dâmaso. O segundo ponto de referência é a Praça do
Rosário, em frente à capela, onde a procissão faz uma segunda parada e é onde
será escolhida a próxima casa-capela e o destino final.
Casas capela do ano de 2016
Períodos Importantes
O primeiro período
que podemos destacar é o dos ensaios, estes começam a partir do primeiro sábado
do mês de Junho. Se tratando de um evento Junino, a procissão sai às ruas no
dia 23 de junho, véspera de São João.
História
A Bandeira de São João é uma das procissões mais antigas do Brasil.
Organizada pela Igreja Católica, a Bandeira de São João saía nas primeiras
horas do dia 23 de junho, após a acender as fogueiras. Puxando o cortejo, o
andor e a bandeira de “São João do Carneirinho” ou “São João menino” saía pelas
ruas dos vilarejos ao som de pequenos grupos musicais. A interação dos
escravizados africanos ao cortejo proporcionou a introdução de alguns
instrumentos de percussão; ocasião em que muitos negros aproveitavam para
louvar o orixá Xangô.
O ritual terminava
quando entregavam a imagem de São João na igreja da comunidade. Com o tempo, em
razão do grande agito (danças, e cantos no interior dos templos), a Igreja
Católica proibiu que o cortejo seguisse até o interior do templo. Sendo assim,
o andor e a bandeira passaram a ser guardados nas casas dos fiéis participantes
da procissão.
Essa atitude acabou
por dividir o folguedo em duas manifestações: uma religiosa e outra profana. A
Bandeira de São João tornou-se uma procissão com rezas e cânticos em louvor ao
santo. A festa profana foi chamada de Acorda Povo, e saía durante a madrugada
com um grupo de cantores e batuqueiros acordando os moradores da cidade para
participar da comemoração, regada a muito bebida e comida típica.
No bairro da Várzea,
o “Acorda Povo” nasce de uma iniciativa de professores da UFPE junto aos
moradores da comunidade empenhados em regatar as raízes culturais da
localidade. O “Acorda Povo” surge, bem como outras manifestações culturais do
bairro, de um esforço de pessoas interessadas em preservar e resgatar elementos
da cultura local e fazer com que eles se perpetuem para as gerações futuras.
Em 1982 a professora
do Colégio de Aplicação da UFPE, Cirinéia Amaral e sua Amiga Gilda Macêdo convidaram
membros da comunidade da Várzea preocupados com a preservação das manifestações
culturais do bairro para que juntos preparassem o “Acorda Povo”.
Na década de 1990 era
marcante a presença de fiéis do Candomblé e a presença da religião na
procissão, devida sobretudo, à presença da mãe de santo Mãe Zuleide. Após a sua
morte os adeptos de sua religião passaram a participar do “Acorda Povo”
enquanto indivíduos, sem que houvessem manifestações referentes ao Candomblé na
procissão.
Tradicionalmente, as bandeiras de São João,
inclusive a do Bairro da Várzea, saíam às 00:00 pelas ruas do bairro, vindo daí
o nome “Acorda Povo”, contudo, devido ao aumento da violência no Estado as
manifestações passaram a ser realizadas mais cedo. No bairro da Várzea a
procissão passou a ser realizada às 20:00, horário do término da missa da
Igreja Matriz do bairro.
Antes da saída, na
casa do organizador (toda enfeitada com bandeirolas, balões e fogueira), o
cortejo realiza orações, pedindo bençãos, e louvando o santo diante da
casa-capela. Dão vivas e geralmente soltam muitos fogos de artifícios. Muitas
pessoas se vestem com as cores do santo ou orixá de sua devoção, o vermelho e o
branco, e saem pelas ruas.
A bandeira de São
João da Várzea é organizada desde 1992, sendo uma das mais recentes e menos
conhecidas Bandeiras de São João de Recife. Surgiu de uma ação dos moradores e
professores da UFPE com o intuito de preservar a cultura do bairro fazendo isso
de maneira autônoma, independente dos órgãos de cultura do Estado, que segundo
os organizadores do evento, terminam por descaracterizar muitos festejos
juninos.
Significados
A devoção religiosa é algo muito marcante na procissão. Para os fiéis
católicos, a devoção a São João Batista, considerado pelos fiéis o profeta
percursor do Messias e responsável pelo seu batismo, sua imagem está sempre
presente na celebração. Para os fiéis do Candomblé o culto ao orixá Xangô, que
foi interpretado na figura de São João durante o período colonial e que até
hoje se faz presente na procissão. Tratando-se especificamente da Bandeira de
São João da Várzea, a preservação da cultura local é o significado mais
marcante.
Esta
vontade de preservação da cultura do bairro, vontade vinda nas iniciativas dos
fiéis e de não-fiéis, de moradores e de não-moradores, mas em todo caso, de
pessoas interessadas em incentivar e preservar as manifestações culturais do
bairro. Algo muito relevante e que deve ser ressaltado é a harmonia entre as
diferentes religiões presentes na mesma festa. Também há na procissão um
sentido de “purificação” para os fiéis.
Programação
As reuniões com os
coordenadores começam a partir do mês de maio. Neste período os músicos são
contratados, é decidido como será a preparação da casa-capela e quem
participará desta preparação. Também é neste período que há uma procura por
auxilio da prefeitura da cidade do Recife, caso haja um incentivo da
prefeitura, a bandeira desfila na abertura do São João da cidade, contudo,
mesmo sem a participação da prefeitura o evento acontece.
No
primeiro Sábado do mês de Junho começam os ensaios para a celebração e estes
vão até o último sábado antes do dia 23 de junho. No dia 23 acontece a procissão
da bandeira de São João.
Pessoas Envolvidas
Existe um grupo de coordenadores composto por três membros, estas
pessoas são responsáveis pelo andamento da programação da procissão. Além
destas, existe o grupo de músicos que sempre são contratados para participarem
do evento. Há também a presença da “madrinha” ou “padrinho” da bandeira. Os
demais participantes são membros da comunidade de maneira geral e convidados.
Comidas e Bebidas
Comidas típicas dos festejos juninos de maneira geral: canjica, pamonha,
milho cozido, bolo de milho verde, amendoim e pipoca.
Uma bebida é preparada especificamente para esta festa e
era preparada originalmente pelos participantes do “Acorda Povo”, o “Quentão”,
bebida preparada com vinho, cachaça, ervas de cheiro e gengibre. Devido às
temperaturas mais baixas no mês de junho, a bebida é servida quente. A presença
desta bebida típica dos estados do Sul do país se deve a preparação da bebida
por uma das idealizadoras da manifestação nos períodos iniciais da criação do
“Acorda povo” da Várzea.
Expressões Corporais
Devido o “afastamento” da celebração em relação a igreja católica, é
encenado na procissão um batismo, e como não há participação do padre, um
membro participante da procissão assume o papel do padre para encenar um
batismo e uma purificação com água de cheiro. Além dessa encenação também há
uma louvação a São João Batista.
Expressões Orais
Existem as músicas que são específicas da procissão. Uma delas é a
música principal: “Acorda povo, que o
galo cantou, foi São João que anunciou!”.
Além da música do “Acorda Povo”, há inicialmente as louvações a São João
e a Xangô que são cantadas. No momento da encenação do batismo também há uma
canção específica para o batismo. No momento inicial, durante a bênção do Padre
há outro canto religioso específico.
O
roteio musical passa por alterações todos os anos, contudo, alguns ritos
tradicionais sempre são preservados no evento. São eles:
Louvação
Meu São João
Meu São João
Hoje será tua festa
Saudamos tua Brincadeira
São João mandou
São João mandou
Cantar, dançar noite inteira
Para louvar a fogueira
Batismo
O anjo do Senhor
Anunciou Jesus
Quem batizou Jesus
Foi São João
O anjo do Senhor
Anunciou Jesus
Quem batizou Jesus
Foi São João
Jesus morreu na Cruz
Pelos nossos pecados
Por isso que nós hoje
Somos Perdoados
Louvação ao Orixá da Justiça
Meu pai São João Batista é Xangô
Dono do meu destino até o fim
Se eu deixar de confiar em ti
Oh meu senhor!
Derruba uma pedreira sobre mim.
Acorda Povo
Acorda povo que o galo cantou
Foi São João que anunciou
Que bandeira é essa que vamos levar
É de São João pra festejar
Acorda povo que o galo cantou
Foi São João que anunciou
Se São João soubesse quando era o seu dia
Descia do céu com prazer e alegria
São João foi tomar banho
Com vinte e cinco donzelas
As donzelas caíram na água
São João caiu com elas
Acorda povo que o galo cantou
Foi São João que anunciou
Ô meu São João vou me banhar
E as minhas mazelas no rio deixei
No final das
encenações e no ponto final da procissão, são incorporadas músicas juninas ao
repertório musical.
Os instrumentos
usados no festejo são: Sanfona, acordeom, atabaque, Zabumba e Ganzá.
Objetos
importantes
O principal
objeto usado é o andor com a imagem de São João que é levado entre os fiéis
durante o cortejo. A bandeira com a imagem de São João do Carneirinho segue
como um estandarte da procissão. A frente e na abertura da procissão há uma
estrela seguida de luminárias que representam o fogo usados para anunciar o
nascimento do messias na religião católica. Além da bandeira de São João do
Carneirinho, outras 4 bandeiras são levadas com a imagens dos demais santos dos
festejos juninos, além de São João, Santo Antônio, São Pedro e São Paulo.
Bandeira de São João da Várzea; São João do Carneirinho; andor e estrela.
Andor com a imagem de São João
Outras
Referências Culturais Relacionadas
Na procissão
também são unidos e apresentados um Coco de Roda e uma Ciranda, ambos grupos do
mesmo bairro.
Há
também uma forte relação com a praça central do bairro, quando possível
também é feita uma louvação na praça. Também há uma ligação com a Igreja do Rosário que também é um dos marcos do bairro, vários de seus membros também são participantes do Acorda Povo.
Avaliação
Primeiramente
podemos destacar a identidade da comunidade varzeana. A
procissão da Bandeira de São João e o Acorda povo são manifestações culturais
que atestam como aquela comunidade vem se relacionando com as diferentes
culturas e tradições religiosas presentes no bairro. Atesta também a harmonia
que há entre diferentes culturas, este é um traço de grade apreço e relevância
do bairro.
A identidade desta comunidade
também está na sua cultura. Podemos entender esta como tudo aquilo que ela
constrói coletivamente e que guarda os traços de sua memória e que também
representam pontos de identidade como a herança cultural do bairro. Inclui os
mitos, símbolos, ritos, todas as crenças, todo o conjunto de conhecimentos e
todo o comportamento. Portanto, conhecer e valorizar a própria cultura é uma
maneira da comunidade e de seus moradores individualmente e coletivamente de se
afirmar como portadores destes traços culturais específicos que caracterizam a
comunidade do Bairro.
A procissão também representa a vontade da própria população
em preservar a sua cultura. Desde a sua criação essa preocupação ficou evidente
na postura dos seus idealizadores em ter demonstrado todo o cuidado necessário
para que a procissão fosse preservada sem que acontecesse uma descaracterização,
uma característica relevante deste evento.
Recomendações
Os
organizadores do evento não contam com nenhum tipo de ajuda de órgãos
governamentais responsáveis pelos eventos culturais. O custeio da celebração
pode se tornar um problema, pois depende da condição financeira de seus
membros. É recomendável que haja um mínimo de auxílio financeiro para o custeio
da festa de maneira perene, e não ocasionalmente como acontece em relação ao
apoio da prefeitura da cidade.
A
divulgação do evento também é algo que pode fazer diferença para o futuro desta
celebração. A intensão do evento é fazer com que se crie também um momento de
confraternização entre fiéis e entre moradores, uma maior aproximação entre uma
maior parcela de pessoas poderia ser alcançada com uma melhor divulgação do
evento, pois os organizadores e membros não possuem meios para que isso seja
feito da melhor
maneira.
É necessário também que haja um meio de levar essa tradição para os membros
mais jovens da comunidade, pois estes poderiam dar continuidade no trabalho que
começou na década de 1990 pelos seus idealizadores. Para além da preservação
deste patrimônio, é de suma importância que os jovens do bairro tomem
conhecimento e se apropriem também das manifestações culturais do bairro. Uma
ação no âmbito da educação patrimonial poderia ser algo de grande relevância.
Contudo,
apesar das oportunidades de melhorar as condições da celebração, é
imprescindível que haja um devido respeito aos limites impostos pelos próprios
participantes, é necessário que se mantenha a autonomia deste grupo que vem
mantendo com os seus próprios esforços esta tradição por anos.
Bandeira de São João da Várzea sendo levada por Maria José, uma de suas organizadoras.
segunda-feira, 27 de junho de 2016
Educandário Magalhães Bastos (antigo Asilo da Infância Desvalida de Ambos os Sexos)
Vista frontal do Educandário Magalhães Bastos. |
Nome
Da sua fundação em 1904 até o
começo da década de 1960, foi nomeado de “Azylo da Infância Desvalida de ambos
os sexos”. A partir do começo da década de 1960 até os dias atuais, foi nomeado
de “Educandário Magalhães Bastos”.
O que é?
O Magalhães Bastos é um
educandário que tem uma escola da rede municipal de ensino integrada às suas
instalações, e que atende crianças carentes da comunidade em que está inserida.
O prédio começou a ser construído em 1897 e foi inaugurado em 1904 como um internato
para crianças órfãs. A instituição pertence à Santa Casa de Misericórdia do
Recife, sendo gerida pela própria Santa Casa e também pela irmandade “Filhas da
Caridade de São Vicente de Paulo”. O Educandário funciona de segunda a sexta,
das 7 às 17 horas, oferecendo serviços socioeducativos complementares à escola,
como forma de ocupar integralmente o tempo das crianças com faixa etária dos 07
(sete) aos 12 (doze) anos.
Localização
O Educandário Magalhães Bastos
está localizado na rua Francisco Lacerda, sem número, no bairro da Várzea, município
de Recife, Pernambuco, CEP 50741-150. A rua do Educandário é transversal à rua
Amaro Gomes Poroca, que tem na sua extremidade leste a parte de trás da
Universidade Federal de Pernambuco, e na sua extremidade oeste as Praças da
Várzea e Pinto Dâmaso. A localidade em que está inserido o Educandário é
totalmente urbanizada, sendo rodeada por algumas comunidades pobres. Na outra
extremidade da rua Francisco Lacerda estão localizadas a Igreja Matriz de Nossa
Senhora do Rosário e a Igreja de Nossa Senhora do Livramento, que ficam ao
redor da Praça do Rosário.
Justificativa
Constatou-se ao longo da pesquisa que o Educandário Magalhães Bastos deve ser considerado patrimônio não apenas pela sua arquitetura diferenciada (contrastante com as demais construções ao redor de todo o bairro da Várzea), mas também pelos serviços que presta à população da comunidade em que está inserida, desde a época de sua fundação. O edifício tem tanto valor arquitetônico quanto social e religioso para os funcionários da instituição e moradores do bairro.
Vista frontal da capela do Educandário. |
Interior da capela. |
Períodos importantes
O “Azylo da Infância Desvalida
de ambos os sexos” começou a ser construído em 1897 por Napoleão Duarte, sendo
que o asilo apenas começou a funcionar em 1904, ano de sua fundação. Desde sua
fundação até o início da década de 1960, funcionou como um internato para
crianças órfãs ou carentes que vinham de cidades próximas. A partir do começo
da década de 1960 até os dias atuais, a instituição mudou de formato e acabou
com o internato, passando a funcionar como uma instituição de assistência
social que desenvolve atividades socioeducativas para crianças carentes da
comunidade em que o prédio está inserido. Foi a partir de então que a instituição
deixou de ser chamada de “asilo” para se chamar “Educandário Magalhães Bastos”.
A única data especial no calendário do Educandário é o 11 (onze) de Novembro,
que foi instituído como um dia de atividades especiais em homenagem ao fundador
da instituição, o comerciante e comendador Antônio José de Magalhães Bastos.
Todos os anos, nesse dia, é celebrada a memória do patrono da instituição,
inclusive com atividades para as crianças que envolvem testes de conhecimento a
respeito da história de vida desse personagem.
Histórico do Lugar
O prédio onde hoje funciona o Educandário Magalhães
Bastos começou a ser construído em 1897, com projeto do engenheiro Napoleão
Duarte. Teve originariamente o nome de “Asylo da Infância Desvalida de ambos os
sexos”. Tendo sido encomendado pelo rico comerciante português Antônio José de
Magalhães Bastos, que em seu testamento expressa que a finalidade do prédio
deveria ser atender a comunidade carente do bairro da Várzea e de outras
localidades, em específico no tocante do serviço ao infante de ambos os sexos,
em condição de orfandade e carência.
Magalhães Bastos veio a falecer antes do
término das obras. Estando ele sem herdeiros, pois havia perdido seus dois
filhos e sua filha, passou a propriedade do prédio e muitos de seus bens para a
Santa Casa de Misericórdia do Recife. Além disso, também deixou para a Santa
Casa suas ações na Fábrica de Beberibe e seus imóveis espalhados pelo Recife.
Em 1904, ano de sua fundação, o prédio foi intitulado de “Azylo
da Infância Desvalida de ambos os sexos” pela Santa Casa, que homenageia seu
fundador através de uma placa presente na entrada do prédio. Os trabalhos
realizados no prédio nesse período foram basicamente de internato. Nele, as
crianças recebiam instrução educacional e profissional e, seguindo o desejo de
Magalhães Bastos, as mais proeminentes eram empregadas pela Santa Casa.
A partir do começo da década de 1960 até os dias atuais,
a instituição mudou de formato e acabou com o internato, passando a funcionar
como uma instituição de assistência social que desenvolve atividades
socioeducativas para crianças carentes da comunidade em que o prédio está
inserido. Foi a partir de então que a instituição deixou de ser chamada de “asilo”
para se chamar “Educandário Magalhães Bastos”. Visto que o caráter de orfanato
estava em mudança, agora o prédio seria usado de fato como Educandário e as
crianças atendidas passariam apenas 8 horas nos trabalhos da instituição, sendo
posteriormente devolvidas a um familiar ou responsável. Essa é a dinâmica do
Educandário até hoje.
Significados
Atualmente, o Educandário permite às famílias do bairro
dispor de uma instituição que oferece tanto Educação formal para as crianças
(no caso da Escola da rede municipal existente no prédio) quanto um centro de
desenvolvimento de atividades socioeducativas, tais como oficinas de
serigrafia, música, pintura (desenho), entre outras. Dessa forma, representa
para essas famílias a possibilidade de deixar suas crianças durante o dia
(enquanto trabalham) desenvolvendo atividades nos dois ambientes, onde podem
buscar uma formação que vai além da formação escolar tradicional.
Além disso, também é um centro de desenvolvimento de
atividades religiosas, já que a instituição pertence à Santa Casa de
Misericórdia do Recife e é gerida por essa e pela irmandade das “Filhas da
Caridade de São Vicente de Paulo”, entidades instituídas e baseadas na religião
católica apostólica romana. Portanto, o Educandário representa para as famílias
da comunidade uma oportunidade de acompanhamento escolar e religioso para suas
crianças. Isso se reflete nas próprias atividades cotidianas do Educandário, já
que essas são sempre acompanhadas de outras atividades de natureza religiosa
(tais como assistir missas na capela, fazer orações e rezas regulares ao longo
do dia, entre outras).
É perceptível o sentimento de
gratidão de uma parte de ex-alunos da instituição, que desenvolveram fortes
laços de afetividade com o Educandário durante o seu tempo de estudos. Muitos
deles hoje são professores da própria instituição, enquanto outros seguem suas
atividades acadêmicas em cursos superiores e atividades de pós-graduação, sendo
sempre lembrados com muito orgulho pelos funcionários da escola. Ainda da parte
desses, a entrevista com a gestora revelou um senso de responsabilidade
(enquanto instituição educacional e de assistência social) em ajudar as
crianças que frequentam o educandário, muitas delas vivendo em condições de
vulnerabilidade social e dentro de famílias desestruturadas.
Pessoas envolvidas
O prédio foi construído em 1897 por
Napoleão Duarte e encomendado por José Magalhães Bastos, mas por ocasião de sua
morte, hoje o prédio está sob a direção da Santa Casa de Misericórdia.
Atualmente no local funciona um Educandário, mantido pelo mesmo órgão
supracitado, estando sob a gestão da Irmã Helena, madre e mantenedora do
edifício. O usufruto do local se dá principalmente pelos seus 500 alunos e esporadicamente
de seus familiares e ex-alunos, nas dependências do edifício foi cedida pela
Santa Casa um espaço que funciona como uma escola da rede municipal do Recife.
O prédio conta também com um
contingente de profissionais contratados pela Santa Casa, que vão desde
professores a zeladoras e vigilantes, uma recepcionista e uma equipe
administrativa. No Educandário também trabalham uma nutricionista e uma
psicóloga, além de uma assistente social, esses profissionais juntamente com o
corpo docente de professores de reforço escolar, música, marcenaria e outros
formam, basicamente o conjunto de pessoas envolvidas no lugar.
Pátio do Educandário. |
Atividades que acontecem no lugar
O prédio, desde sua fundação tem como objetivo atividades
educativas e sociais, que são marcas no retrato do local. As celebrações de
missas e outras atividades religiosas são reservadas aos alunos e familiares,
festas e eventos do bairro não são sediados na escola. Contudo as atividades da
Santa Casa são bem presentes e realizadas lá, o Educandário em particular se
reserva o direito de comemorar em especial o “Dia do Fundador” que reúne alunos
ex-alunos e familiares.
As atividades educativas realizadas no prédio não são de
todo escolares, visto que se trata de um Educandário, mas ainda assim guardam
semelhanças, nas dependências do complexo são realizadas aulas de música,
artes, marcenaria, serigrafia, informática, reforço escolar e outras atividades
pedagógicas e de lazer.
Avaliação
O Educandário Magalhães Bastos é um ponto de referência
no bairro da Várzea, não só por apresentar um histórico de suma importância e
um caráter formador da identidade local do bairro, com seus aspectos
arquitetônicos e históricos que fazem dele um marco singular na face do bairro.
A importância do Educandário para o bairro se exprime para muito além dos
aspectos físicos da edificação, mas se demonstra no trabalho social centenário
realizado ali, sempre visando manter o espírito de auxílio ao carente. A face
formadora e educadora do Educandário, mostra-se em sua história no bairro
através da formação de nomes relevantes no bairro e mais ainda pelo fato de que
muitos de seus moradores passaram por seus corredores.
Apesar de não ser um espaço diretamente aberto a toda a
população do bairro, o educandário fornece serviços que abrangem-no em sua
totalidade, por essa razão o apreço e o cuidado para com o patrimônio em
questão é mostrado tanto pelos que trabalham quanto pelos os que usufruem de
seus serviços. Mais ainda o cuidado em preservar o prédio e a instituição que
ele abriga vem sendo uma marca da população circunvizinha à edificação. A
preocupação no entanto, é de preservar esse sentimento entre as gerações, para
que o significado não deixe de ser cultivado e assim deixando, torne-se o
edifício nada mais do que um fragmento de seu propósito original.
Recomendações
Por fim, através das observações de campo, foi possível
chegar a apenas uma conclusão acerca de recomendações para melhorar a
preservação do prédio: que as famílias das crianças sejam atraídas de alguma
forma a participar mais da realidade das atividades da escola. As reuniões
pedagógicas são frequentas por poucos familiares ou responsáveis e, além disso,
apenas se tomou conhecimento de um canal de interação entre familiares e a
comunidade escolar: as comemorações do dia 11 (onze) de Novembro, em homenagem
a Antônio José de Magalhães Bastos.
Contanto que os familiares se
sintam também parte da comunidade escolar, poderão também participar mais efetivamente
dos processos que resultam em uma preservação mais efetiva dos estabelecimentos
do Educandário. Assim, a Santa Casa (junto com a gestão do Educandário e da
Escola municipal) poderia pensar em mecanismos de participação dos familiares
das crianças nos processos de tomada de decisão da realidade escolar. Assim,
sentindo-se parte de fato da comunidade escolar, como bem defendem os
princípios da Gestão Democrática (presentes na Constituição Federal e na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional/1996), é que as atividades escolares e
a relação da instituição com os familiares podem ser melhor aproveitadas,
visando o bem comum (das crianças, principalmente).
terça-feira, 21 de junho de 2016
Santiago Matos
Santiago Matos é natural do estado da Bahia, mas veio para Recife para cursar o Mestrado e reside no bairro da Várzea. Faz parte do setor de comunicação do Movimento Salve o Casarão, estando neste desde seu início. O Movimento realiza atividades no pátio externo do chalé para aproximar a população ao lugar e cobra do município a preservação e revitalização do imóvel, bem como a construção de um mercado público em seu pátio, para remoção das barracas que atualmente estão ocupando suas calçadas.
Marcelo (Pato)
Marcelo, mais conhecido como Marcelo Pato, é um músico do Maracatu Real Várzea do Capibaribe, nasceu e mora até hoje na Várzea, tendo profunda identificação com o bairro. Frequentou o posto de saúde (à partir dos 12 anos de idade) que funcionava no pátio externo do chalé. Além disso, frequentou o lugar em diversas outras ocasiões, por manter amizade com o caseiro que cuidava do imóvel. Atualmente participa dos mutirões realizados no lugar, através do movimento “Salve o Casarão da Várzea”.
O Casarão da Várzea (Antigo Hospital Odontológico Magitot)
O que é
Localizado na rua Azeredo Coutinho, nº 130, bairro da Várzea, O "Casarão da Várzea" é um chalé de dois pavimentos que
abrigou o antigo Hospital Magitot.
História
O "Casarão da Várzea", também conhecido como "Hospital Magitot", foi inaugurado em 27 de maio de 1905,sendo utilizado como moradia até a década de 50, quando se tornou um hospital odontológico, o terceiro endereço do Hospital Magitot (anteriormente sediado nos bairros de Casa Forte e Madalena).
Com o fechamento do hospital na década de 60, passou a
funcionar um pequeno posto de saúde nos “fundos”do casarão até o fim da década
de 80, sendo cuidado a partir daí por um caseiro, que permitia a entrada de
moradores do local para realização de atividades como a limpeza do terreno, ensino de capoeira, missas (em uma capela improvisada na área externa), entre
outros. Isso ocorreu até o chalé ser atingido por um incêndio, em 1992, que destruiu o piso dos dois
pavimentos (de madeira). Neste período, houve uma iniciativa de inclusão do chalé como Imóvel Especial de Preservação (IEP), mas a proposta não obteve êxito. Enquanto isso, uma família passou a
residir no ambiente anexo ao casarão, que não havia sido atingido pelo incêndio, até serem
expulsos pela prefeitura em 2013, quando o chalé foi finalmente classificado como Imóvel Especial de Perservação (IEP). Atualmente o movimento "Salve o Casarão da Várzea" cobra da Prefeitura do Recife a recuperação do chalé, bem como a construção de um mercado popular em seu pátio externo.
Significados
O chalé é o único do Recife no estilo romântico
com influência inglesa de dois pavimentos. Como muitos dos moradores mais
antigos foram atendidos no local, há uma ligação “sentimental” com o casarão,
que se encontra abandonado e parcialmente destruído (após um incêndio),
degradando-se com a ação do tempo.
Atividades
Hoje abandonado e degradado, as atividades têm sido realizadas em seu pátio externo, aos sábados, organizadas pelos membros do movimento “Salve o Casarão da Várzea” e moradores do
bairro, como plantio, organização e colheita na horta comunitária,
apresentações musicais e artísticas, organização de uma rádio comunitária,
oficina de muralismo, feijoada comunitária, entre outros.
Responsáveis
A
prefeitura do Recife é a atual proprietária do terreno, embora não esteja
realizando qualquer atividade de manutenção do local. Por outro lado, os
moradores, através do movimento Salve o casarão, têm realizado a manutenção
possível do pátio externo, bem como usufruído das já mencionadas atividades
realizadas aos sábados.
Recomendações para preservação
Para a preservação do lugar, é de fundamental
importância que seja realizada o quanto antes uma reforma no casarão, que
encontra-se cada vez mais destruído pela ação do tempo. A prefeitura prometeu
em 2013 a reforma do chalé (estando ainda por decidir qual seria a utilização
do casarão após a reforma) e a construção de um mercado no pátio externo, para
abrigar os barraqueiros que atualmente se encontram nas calçadas do imóvel,
impossibilitando os pedestres de transitarem nas mesmas. Ouvindo a opinião de
moradores, é bastante visível que eles desejam a construção do mercado no pátio
externo e a utilização do chalé (após reformado) de algo que tenha uma
utilidade para eles, sendo quase consenso a ideia de um espaço cultural, para
que eles possam participar (como realizadores ou expectadores) de atividades
como apresentações e mostras. Avaliando toda a situação, de fato, a utilização
do casarão como um espaço cultural, bem como um mercado ao seu redor,
aumentaria o contato e identificação da comunidade com o imóvel, que já foi
classificado como Imóvel Especial de Preservação pelo Município, mas nada foi
feito pela prefeitura para a sua preservação.
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